quinta-feira, 29 de maio de 2008

Tratamento de esgoto em pequenas comunidades ajuda meio ambiente

FERNANDA VERNIER

O mundo sofre uma crise de falta de água potável. Um dos motivos é a falta de tratamento de esgoto no mundo todo. Cintia Elena Nicolau, formada em Tecnologia em Saneamento Ambiental pela Unicamp explica algumas soluções para esse problema.

Segundo Cintia, a utilização da água para atender às necessidades da sociedade, tanto para sobrevivência, necessidades básicas, quanto para o desenvolvimento industrial etc., resulta na produção de efluente ou esgoto.

Cintia afirma que, dependendo de como e onde é destinado esse esgoto, sérios danos ao local podem ser ocasionados, como poluição das águas subterrâneas e superficiais, do solo, sendo um perigoso foco de doenças.

A disposição de esgotos brutos no solo ou em corpos d’águas naturais, como lagoas, rios e oceanos, é uma alternativa que foi e ainda é empregada de forma muito intensa, afirma ela.

Dependendo da carga orgânica lançada, os esgotos provocam a total degradação do ambiente (solo, água e ar) ou, em outros casos, o meio demonstra ter condições de receber e de decompor os contaminantes até alcançar um nível que não cause problemas ou alterações acentuadas que prejudiquem o ecossistema local e circunvizinho.

Isso demonstra que a natureza tem condições de promover o “tratamento natural” dos esgotos, desde que não ocorra sobrecarga e que haja boas condições ambientais que permitam a evolução, reprodução e crescimento de organismos que decompõem a matéria orgânica.

Ou seja, o tratamento biológico de esgotos é um fenômeno que pode ocorrer naturalmente no solo ou na água, desde que predominem condições apropriadas.

Uma estação de tratamento de esgotos é, em essência, um sistema que trabalha com esses mesmos organismos que se proliferam no solo e na água.

Em estações de tratamento procura-se, no entanto, aperfeiçoar os processos e minimizar custos, para que se consiga a maior eficiência possível, respeitando-se as restrições que se impõem pela proteção do corpo receptor e pelas limitações de recursos disponíveis, explica.

Nelas, procuram-se, geralmente, reduzir o tempo de detenção hidráulica (TDH), que é o tempo médio que o esgoto fica retido no sistema, e aumentar a eficiência das reações bioquímicas, de maneira que se atinja determinado nível de redução de carga orgânica, em tempo e espaço muito inferiores em relação ao que se espera que ocorra no ambiente natural.

Assim sendo, mesmo as disposições no solo podem constituir-se em uma excelente forma de tratamento, desde que se respeite a capacidade natural do meio e dos microrganismos decompositores presentes.

Segundo ela, há muitas alternativas para tratamento de esgotos, desde uma simples, porém controlada, disposição no solo até sofisticadas estações completamente automatizadas.

Para cada cidade, em função de suas características próprias, deve-se sempre escolher aquela solução que corresponda a uma eficiência e a custos compatíveis com as circunstâncias que prevalecem no local.

Ela afirma que são coletados em rede pública 49% do esgoto sanitário produzido no Brasil, sendo que, desses, apenas 32% são tratados, perfazendo cerca de 16% do produzido.

Diante desses números, aliado ao quadro epidemiológico e ao perfil sócio-econômico das comunidades brasileiras, constata-se a necessidade por sistemas simplificados de tratamento dos esgotos.

Esses sistemas devem conjugar os seguintes requisitos principais:
• Baixo custo de implantação;
• Elevada sustentabilidade do sistema, relacionada à pouca dependência de fornecimento de energia, de peças e equipamentos de reposição etc.;
• Simplicidade operacional, de manutenção e de controle (pouca dependência de operadores e engenheiros altamente especializados);
• Baixos custos operacionais;
• Adequada eficiência na remoção das diversas categorias de poluentes (matéria orgânica biodegradável, sólidos suspensos, nutrientes e patogênicos);
• Pouco ou nenhum problema com a disposição do iodo gerado na estação;
• Baixos requisitos de área;
• Existência de flexibilidade em relação às expansões futuras e ao aumento de eficiência;
• Possibilidade de aplicação em pequena escala (sistemas descentralizados), com pouca dependência da existência de grandes interceptores;
• Fluxograma simplificado de tratamento (poucas unidades integrando a estação);
• Elevada vida útil;
• Ausência de problemas que causem transtorno à população vizinha;
• Possibilidade de recuperação de subprodutos úteis, visando sua aplicação na irrigação e na fertilização de culturas agrícolas;
• Existência de experiência prática.

Embora não exista uma solução que atenda integralmente a todos esses requisitos, existem várias alternativas que atendem, em maior ou menor grau, aos principais requisitos que devem ser observados num estudo técnico-econômico de escolha de alternativas.

Cintia afirma que é de conhecimento amplo a crise que atravessa o saneamento no Brasil. Entre o final dos anos 80 e início dos anos 90, os dados referentes ao esgotamento sanitário são alarmantes, indicando índices de cobertura da população, por redes coletoras, de apenas 30%, e um percentual de municípios que possuem estações de tratamento inferior a 10%.

Mesmo nos municípios que se incluem nessa pequena parcela, em geral, as estações de tratamento atendem a apenas uma parte da população, muitas vezes as eficiências são reduzidas e problemas operacionais são freqüentes.

Diante desse enorme déficit sanitário, aliado ao quadro epidemiológico e ao perfil sócio-econômico das comunidades brasileiras, constata-se a necessidade por sistemas simplificados de coleta e tratamento dos esgotos.

Esses sistemas devem conjugar baixos custos de implantação e operação, simplicidade operacional, índices mínimos de mecanização e sustentabilidade do sistema como um todo.

Nesse sentido, as seguintes alternativas, dentre outras, devem ser consideradas:
• Sistemas individuais de tratamento e disposição de excretas e esgotos:
o Fossa seca, nas suas diversas modalidades,
o Tanque séptico e infiltração no solo,
o Tanque séptico e filtro anaeróbio;
• Sistema condominial de coleta de esgotos;
• Sistemas coletivos de tratamento de esgotos:
o Lagoa de estabilização,
o Aplicação no solo,
o Tanque séptico e filtro anaeróbio,
o Reator anaeróbio de manta de lodo.

No que se refere aos sistemas coletivos de tratamento de esgotos, embora existam alternativas que possam ser utilizadas, entende-se que, atualmente, no Brasil, as quatro relacionadas anteriormente encontram maior aplicabilidade.


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