Visita a bairro de Limeira mostra o desrespeito ao meio ambiente.
LUCAS CLARO
O vento frio faz com que as belas árvores realizem um verdadeiro balé, em um movimento encantador de galhos e folhas. No jardim Barão de Limeira, é possível observar como a natureza foi generosa com o bairro, propiciando-lhe uma linda paisagem. Pássaros, borboletas, muitas árvores e flores fazem parte do local.
O singelo ato de contemplar a magnitude da natureza é abruptamente interrompido pela força do homem. Uma força que a natureza não consegue vencer. A falta de consciência é daquele que deveria protegê-la, o próprio ser humano.
A pequenina borboleta, com as cores fortemente definidas em tons de vermelho e preto, voa entre as flores e restos de comida, garrafas plásticas, de uísque, papéis e muito entulho.
O pavoroso contraste parece ser sentido pelo inseto holometábolo, ou seja, que passa por inúmeras transformações durante a fase da vida. Talvez a mais aterrorizante das transformações é saber que o homem está destruindo a seu habitat natural.
Esse é o cenário de algumas ruas do bairro de classe média, Barão de Limeira, que leva, no sobrenome, o nome da cidade. Ele fica em uma área de preservação permanente, próximo a uma nascente.
O biólogo da secretaria de meio ambiente de Limeira, Rogério Mesquita, cabelos penteados e com gel, óculos redondos e roupa social, olha o cenário e, descrente, movimenta a cabeça em sinal de reprovação. Ao vê-lo assim, indago:
“Qual a sensação, para você, como um biólogo, ver tudo isso? Existe algum trabalho de educação ambiental na cidade para que isso não aconteça?”
De prontidão, ele responde:
“Fico muito chateado, isso é uma situação gritante. Isso é um recurso natural esgotável. Por falta de educação, as pessoas estão destruindo a natureza. É inaceitável. A cidade possui 100% de cobertura de lixo, e, agora, estamos com trabalhos em 18 eco-pontos da cidade. Mas, por mais que tentamos orientar, sempre existem pessoas que fazem isso, acabam com a natureza”, explicou o biólogo.
Os eco-pontos são locais distribuídos nos bairros de Limeira que servem para a população levar materiais descartáveis, ou ainda, pneus ou entulho, por exemplo.
Aproxima-se das nove da manhã. Os raios do sol brilham com maior intensidade, o que faz elevar a sensação térmica. Cerca de 20 metros à frente, do lado esquerdo da calçada, está Antônio Oliveira, aposentado de 61 anos. De chinelo, bermuda azul marinho e camiseta branca com a frase em inglês: Life Love (amo a vida, em português), o aposentado de pele morena clara e calvo, faz jus à escrita que está na camisa na altura do peito.
De forma organizada, ele coloca o lixo da casa na lixeira. Ao abordá-lo, questiono a respeito da indisciplina de muitas pessoas que jogam lixo em áreas de preservação do meio ambiente, como acontece próximo a casa dele.
Aborrecido seu Antônio fala que as pessoas que fazem isso provavelmente são de outros bairros. Com o olhar distante, observando a sujeira nas proximidades de sua residência, o aposentado não resiste e comenta:
“ As pessoas deveriam amar mais a natureza e, assim, preservar o meio ambiente. E, se gostam de imundice, deveriam fazer dentro da casa delas”,exaltado, reclamou.
O aposentado ainda agradeceu o incentivo da reportagem em divulgar a situação do bairro, que, segundo ele, é lamentável.
Após a conversa com o morador, caminho com o biólogo por mais alguns metros e mais sujeira. Rogério Mesquita, ao se deparar com a situação, reclama: “Mais sujeira. É preciso escalar um pessoal para limpar tudo isso. É uma falta de consciência absurda”.
Voltamos para carro e, no caminho para secretaria de meio ambiente, o biólogo vai mostrando diversos lugares que muitas pessoas jogam entulhos e lixo.
Segundo ele, é preciso um trabalho de conscientização muito grande para que as pessoas preservem aquilo que é de total interesse delas e de suas gerações futuras.
Segundo informações da coordenação do aterro sanitário de Limeira, a cidade produz 150 toneladas de lixo ao dia, o que corresponde a 0,55 tonelada por habitante ao dia.
Limeira possui, ainda, coleta em 100% da cidade, todos os dias na região central e dias alternados nos bairros. A antiga capital nacional da laranja, que hoje atrai os olhos para os folheados, possui ainda uma cooperativa de lixo e um aterro sanitário, que, esse ano, teve a prorrogação por mais dois anos, até a implantação do novo aterro.
Ao analisar a situação da cidade, fica evidente que o cidadão limeirense não tem necessidade de despejar lixo e resíduos domésticos em áreas de preservação permanente.
Para essas pessoas faltam disciplina e educação. Recordo-me do poema de Manoel Bandeira, o bicho que compara o homem a um ser inferior ao animal. Diz o poeta: “[...] O bicho não era um cão. Não era um gato. Não era um rato. O bicho, meu Deus, era um homem”.
Homem esse dotado de inteligência, mas que, com certeza, precisa utilizá-la antes que seja tarde de mais.
quinta-feira, 29 de maio de 2008
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