sexta-feira, 9 de maio de 2008

Ocupação do Pós-represa deve levar meio ambiente em consideração



Área america-nense possui diversidade biológica e guarda riquezas naturais

JULIANO SCHIAVO

Quem olha o mapa de Americana, cidade do interior paulista, pode observar uma grande represa. Os olhos mais atentos enxergam um dragão azul, cujo nome real é represa do Salto Grande. Suas águas são afluentes do rio Piracicaba e guardam, próximo a Paulínia, um mini-pantanal, onde garças e outras aves se misturam com a paisagem.

Nas costas do dragão azul repousam 32 Km² de terras ainda não exploradas. Cosmópolis, Paulínia e Nova Odessa fazem divisas com essa área americanense, que corresponde a 22% do território do município e é conhecida como Pós-represa.

Na vegetação castigada pela monocultura da cana-de-açúcar, pelas pastagens e outros tipos de exploração não sustentável, ainda é possível encontrar áreas onde a biodiversidade resiste. É o que afirma o biólogo e doutor em Zoologia, Thiago Augusto Ortega Pietrobon, que desenvolveu um levantamento das nascentes do Pós-represa.

Nesse contato, ele teve a oportunidade de observar “inúmeros rastros (pegadas) de animais, destacando-se veados (inclusive com filhotes), guaxinins, cachorros e gatos que podem ser selvagens, além de aves e répteis”.

O biólogo destaca que, do ponto de vista da flora, foram observadas três grandes remanescentes de vegetação, que devem ser resquícios da vegetação original de Americana, e por isso, de grande importância para o município.

Mas essa área sofre impacto da ação do homem. Segundo Pietrobon, o avanço das plantações sobre as nascentes e a inexistência de mata ciliar ao seu redor, contribuem para a redução do volume hídrico e propiciam um aumento na erosão, o que colabora para assorear os córregos do local. “A falta de rotatividade de culturas, nas áreas cultivadas, pode também levar a um esgotamento das reservas de nutrientes do solo”.

Áreas de proteção ambiental
Com a aprovação do Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado (PDDI), no final de 2007, que é uma lei municipal que estabelece diretrizes para a ocupação da cidade, a prefeitura de Americana teve que elaborar um Plano Diretor Específico da área do Pós-Represa.

De acordo com a Diretora da Unidade de Estatística, Maria Aparecida Martins Feliciano, “esse trabalho está sendo realizado por uma equipe da Prefeitura, formada por técnicos de todas as secretarias”. Eles já tiveram a participação de alguns representantes de ONGs, de estudantes de mestrado, técnicos da comunidade e representantes de associações de classe. Existe também uma parceria com a comissão nomeada pela Câmara de Vereadores para acompanhamento da implantação das Áreas de Proteção Ambiental de Americana.

Definir é o caminho
A elaboração desse plano vai ajudar na implantação de vários projetos, cujo propósito é garantir o desenvolvimento sustentável do local. Isso inclui projetos de manutenção, recuperação e monitoramento das áreas de preservação ambiental.

Para Pietrobon, o PDDI é a oportunidade de planejar as ações sobre a área, garantindo que a geração de impactos sobre o ambiente seja mínima. “Se pensarmos do ponto de vista histórico, Americana, entre as décadas de 50 e 60, sofreu um grande aumento demográfico urbano. Nas décadas de 70 e 80, com a implantação de indústrias multinacionais, uma nova leva de migrantes ocupou seu espaço urbano. Assim, o desenvolvimento urbanístico do município ficou comprometido com o crescimento desordenado da população, como constatamos hoje pelas reduzidas áreas de praças públicas na malha urbana e menor número ainda de áreas de preservação conservadas”, destacou.

Recursos hidrológicos
O levantamento das nascentes realizado por Pietrobon apontou que, das 96 nascentes encontradas, apenas 14% apresentam certa cobertura vegetal. Por volta de 30% delas não apresentam vegetação arbórea, havendo apenas mato alto ou plantações ao redor. Vinte e três por cento apresentam poucas árvores e muito mato alto. O restante, ou não foi verificado ou encontra-se em área alagada, com vegetação típica de alagado, ou ainda está sendo reflorestada e encontra-se em desenvolvimento (duas nascentes nesta ultima situação). “O que mais chama a atenção na análise da cobertura vegetal é a presença de mato bastante alto, que muitas vezes sufoca as árvores em crescimento. Um manejo adequado deverá ser feito a fim de propiciar o desenvolvimento da mata ciliar”, disse o biólogo.


Importância do Pós-represa
Mais do que uma área para o desenvolvimento de Americana, o Pós-represa, de acordo com o biólogo, possui um papel importante na amenização da carga de poluentes atmosféricos que passam por ali e chegam à cidade, pois serve como uma barreira.

O local também pode ter papel estratégico no futuro na geração de água e na preservação da biodiversidade, devido à quantidade de nascentes e à riqueza biológica que apresenta.

Por isso, a realização de um plano-diretor específico da área é importante para fazer com que se adote uma política de desenvolvimento sustentável. “Através de um plano diretor pode se estabelecer um desenvolvimento sustentável, garantindo que naquele território haja um equilíbrio entre o desenvolvimento econômico, a justiça social e o meio ambiente”, explicou Maria Aparecida.
Foto: Thiago Pietrobon

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