RENATA CARRASCOZA DOS REIS
Em Limeira, já se levantou a hipótese de falta de água nos próximos 10 anos. A cidade é abastecida pelo Rio Jaguari, e a Bacia do Pinhal, que fica no município, como fonte alternativa da cidade. Entretanto, falta preservação, sobretudo em relação a assoreamento e mata ciliar.
Não se trata de uma simples previsão. A disponibilidade hídrica da região, incluindo Limeira, já se compara a de países semidesérticos, como Israel e Egito, por exemplo. O fato está exposto no plano de avaliação do Comitê das Bacias Hidrográficas - Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí CBH - PCJ) e foi divulgado pelo diretor de Recursos Hídricos de Limeira, Dirceu Brasil Vieira, que também é coordenador do curso de Engenharia Ambiental do Isca Faculdades.
Mas, foi o secretário executivo do Consórcio PCJ e coordenador geral da Agência de Água, Francisco Carlos Castro Lahóz, que explicou melhor essa situação, que já preocupou bastante gente, inclusive algumas autoridades.
Para explicar o fato de Limeira poder ter comprometimento no que diz respeito à qualidade de água, ele citou o Sistema Cantareira. Mas o que é o Sistema Cantareira?
De acordo com ele, são vários reservatórios, sendo três no Estado de São Paulo. “Antes de 2004, quando foi assinado um acordo pela Sabesp, a prioridade era a Grande São Paulo. Depois, passou-se a ter em 84,5% do tempo, garantidos 31 metros cúbicos por segundo para a Grande São Paulo e 5 metros cúbicos por segundo para a Bacia do Rio Piracicaba, através das comportas dos reservatórios do Jaguari e do Jacareí, dos reservatórios de Cachoeira e Atibainha”.
Acordo
O que ele quis dizer com essas informações é que mesmo com esse acordo e se houver estiagem, o abastecimento será mantido. Não só para Limeira, mas também para os municípios que ficam na calha do Jaguari ou na calha do Atibaia.
Ou seja, a dificuldade maior em Limeira é a qualitativa. “É como acontece em Piracicaba, que tem a junção dos rios Jaguari com o Atibaia. Muitas vezes passam 20 metros cúbicos por segundo e há necessidade apenas de um e meio metro cúbico por segundo. Mas, o problema é que essa pequena quantidade necessária não tem qualidade para servir a população”. Segundo ele, os tratamentos convencionais não seriam suficientes.
Equacionar riscos
Contudo, o risco seria qualitativo e não quantitativo. Mas, como equacionar para que Limeira não tenha outros problemas?
“O Comitê de Bacias Hidrográficas dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ) tem tomado providências no aspecto do seu plano de bacias. Tem sido priorizado o tratamento de esgotos e, com a cobrança estadual, implantada no ano passado e a cobrança federal, em vigor desde 2006, teremos, nesse ano, um montante financeiro acima de R$ 30 milhões liberados para projetos e também para algumas obras”.
Lahóz esclareceu que os recursos da cobrança não equacionarão a falta de recursos financeiros, mas permitirá a estruturação, como a elaboração de projetos executivos, e de licenças ambientais, que permitem aos próprios serviços de água, buscarem na própria Caixa Econômica Federal (CEF) e outras fontes, captarem esses recursos.
“Então o que eu diria é: ‘Se o que nós já estamos fazendo prevalecer, o que se pode ter em alguns momentos, quanto ao Rio Jaguari, é que o serviço de água, no caso a concessionária Águas de Limeira, terá que ter uma sofisticação maior no seu tratamento, embora, atualmente, já tenha uma qualidade muito grande no que diz respeito a tratamento’”.
Tudo isso porque, segundo ele, não se pode esquecer que a população cresce e há também o próprio desenvolvimento e, sendo assim, conseqüentemente, um maior consumo e menor diluição.
Pinhal
Então qual é a saída? Para ele, a saída é tratar os esgotos. Mas, isso tudo tem sido feito, de acordo com o coordenador geral da Agência de Água. “Então, é importante que o Pinhal esteja preparado, não só para situações emergenciais, mas para o futuro”.
E como preparar a Bacia do Pinhal? “Utilizando também os próprios recursos da cobrança do uso da água. Por ser um manancial menor, ele requer investimentos menores e há a possibilidade, desde que bons projetos sejam apresentados e haja preocupação das autoridades”.
Conforme as regras do Comitê, os projetos são pontuados tecnicamente. Com isso, de acordo com Lahóz, se a população de Limeira deseja que o Pinhal ofereça melhor qualidade de vida, é preciso que projetos - e não só projetos que dependem da concessionária, mas de ONGs, da Secretaria da Agricultura e Meio Ambiente da Prefeitura - devem ser apresentados, para que se possa ter uma bacia local recuperada e em condições de atender ao Jaguari a qualquer momento”.
Ele também vê o Pinhal como fonte alternativa de abastecimento extremamente importante, ao contrário de outros municípios, que não têm esse benefício. “Só que tem que investir e realmente dar importância”. O problema, segundo ele, é que passaram-se vários anos sem ações e sem a cultura preservacionista.
Para o coordenador geral da Agência de Água, o agricultor não tem culpa por não ter tido a cultura de preservar as margens dos rios. Mas, agora, é preciso conscientizá-lo.
Tudo isso porque, na opinião dele, a situação e as previsões não preocupam apenas Limeira, mas uma população de aproximadamente 5 milhões de habitantes nas imediações, sendo 9 milhões abastecidos pelo Sistema Cantareira, que tem as cabeceiras que começam na região.
“Estamos falando do abastecimento do segundo parque industrial do País e também de uma Bacia Hidrográfica que tem uma irrigação significativa”.
“Organizem-se!”, recomenda coordenador da Agência de Água
“Eu acho que não é questão de alarmismo e nem preocupação para a cidade de Limeira, mas se eu pudesse fazer uma recomendação para a população, eu diria o seguinte: Organizem-se através de associações tanto de engenheiros como de classes. Outra sugestão é que a própria Prefeitura, através dos departamentos responsáveis, crie grupos visando banco de projetos para a recuperação ambiental, para o tratamento dos esgotos, procurar as licenças ambientais para que, quando ocorram incentivos financeiros, como o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), haja possibilidade de captar o recurso. E, para isso, é preciso estar preparado”.
Segundo ele, o próprio Comitê PCJ está criando a cultura de um banco de projetos e, com isso, têm-se conseguido inúmeros recursos federais, por exemplo. “Então, mais do que criticar, reclamar, eu digo, organizem-se e estejam aptos para todas as oportunidades de investimento. Sou um otimista e acredito que vamos superar. Além disso, eu também sonho com um Pinhal revitalizado, não só para acudir o Jaguari, mas para que Limeira tenha orgulho de ter um manancial local em condições de mostrar para o mundo que é possível fazer isso”.
quinta-feira, 29 de maio de 2008
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