segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Monocultura da cana agride meio ambiente

A produção da cana-de-açúcar tem sido estimulada com o aumento do uso do biodiesel. Porém, o crescimento dessa cultura pode trazer alguns problemas. Confira a matéria de Juliano Schiavo e Kendra Martins, que entrevistam a bióloga Cláudia Brasil sobre os malefícios da monocultura da cana-de-açúcar.

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Operação Inverno busca conscientizar população sobre queimadas

Queimadas causam problemas ambientais, sociais e de saúde pública.

ROGÉRIO TADEU RUEDA JUNIOR

As queimadas têm sido objeto de grande preocupação e polêmica em todo o Brasil. Nesta época do ano, período de estiagem, elas causam muitos problemas ao meio ambiente, à qualidade do ar e para a saúde pública.

Pensando nisso, o departamento de Defesa Civil de Limeira, ligado à Secretaria Municipal de Segurança Pública, desenvolve, há 10 anos, com apoio das secretarias municipais, órgãos estaduais e federais, a Operação inverno, que visa conscientizar a população sobre os devidos cuidados que devem ser tomados com o ar que se respira.

De acordo com o coordenador da Defesa Civil, Miquéas Balmant, é muito importante que as pessoas tenham a consciência de não provocar queimadas. Para isso, estão sendo distribuídos folhetos informativos sobre os efeitos dos poluentes à saúde, e campanhas educativas são realizadas nas escolas da cidade.

Para ele, as pessoas vêm de uma cultura em que o fogo é bom para limpeza dos terrenos, mas sem saber os reais danos desta prática, principalmente a degradação da qualidade de ar.

“O maior problema, entretanto, é a queima da palha de cana-de-açúcar procedendo a colheita, geralmente iniciada em abril ou maio e se estendendo até novembro”, explica.

Já os principais motivos apontados pelos produtores da região para aplicação do corte manual são o barateamento do custo da colheita e o provável impacto social que provocaria a mecanização.

A queimada seria justificada pela eliminação de animais peçonhentos do entorno das plantações, trazendo maior segurança ao trabalhador, além do fato de facilitar o corte ao eliminar impurezas e reduzir perdas.

Fiscalização

De acordo com a Assessoria Geral de Comunicações da Prefeitura de Limeira, a responsabilidade pela fiscalização da lei é da Defesa Civil, junto a Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental) e a Polícia Florestal.

Segundo a socióloga da Cetesb, Vera Lúcia Namura, a grande característica da Operação Inverno é unir os órgãos para realizarem uma ação conjunta, objetivando o controle dos impactos de poluentes neste período crítico no município.

Ela também conta que, neste ano, a comissão formada para discutir as propostas que visam evitar o aumento da concentração de poluentes, provocados pela redução dos ventos e das chuvas, vai estudar a possível fiscalização sobre veículos movidos a diesel, especialmente caminhões e ônibus que estiverem desregulados emitindo uma fumaça escura, muito mais poluente do que a normal.

Legislação

A Lei nº 3.963/05, com fundamento de que a prática de queimada é primitiva, prevê aplicação de multa. O valor varia entre R$ 50 mil a R$ 500 mil, dependendo da quantidade de infrações.

Ocorrências

No ano de 2007, a Operação Inverno registrou 242 ocorrências – de emissão de fumaça das caldeiras de indústrias, veículos com motor desregulado, poeira das ruas sem asfalto, queima de lixo, mato, palha de cana, resíduos sólidos industriais, pneus e fuligem.

Denúncias No caso de ser avistado algum foco de incêndio na cidade, além de ligar no 199 da Defesa Civil, a Prefeitura de Limeira informa que as pessoas devem acionar também o Corpo de Bombeiros pelo 193, a Guarda Municipal no 153 e a Polícia Militar através do 190.

Ouça a reportagem:

Consciência ambiental: Como você prática?

RITA AP. WEHMUTH GARCIA

Você já ouviu falar nos 4 R´s?

Eles são as iniciais de Reduza, Reutilize, Recicle e Repense.

Os 4 R´s são os princípios básicos para pensar melhor sobre atitudes que colaboram com a preservação do meio ambiente e ajudam a desenvolver a consciência ambiental.

Os recursos naturais estão escassos e as pessoas estão desorientadas quanto à intensidade dos impactos que causam ao meio ambiente com suas ações. Não são apenas os países industrializados ou grandes empresas que poluem e precisam desenvolver a conscientização ambiental.

Para que a consciência ambiental seja uma realidade, devemos começar a agir em casa. Ouvimos algumas pessoas para saber o que elas fazem no dia-a-dia para colaborar com a preservação do meio ambiente.

Acompanhe o vídeo:

Água pode ter qualidade comprometida em Limeira

RENATA CARRASCOZA DOS REIS

Em Limeira, já se levantou a hipótese de falta de água nos próximos 10 anos. A cidade é abastecida pelo Rio Jaguari, e a Bacia do Pinhal, que fica no município, como fonte alternativa da cidade. Entretanto, falta preservação, sobretudo em relação a assoreamento e mata ciliar.

Não se trata de uma simples previsão. A disponibilidade hídrica da região, incluindo Limeira, já se compara a de países semidesérticos, como Israel e Egito, por exemplo. O fato está exposto no plano de avaliação do Comitê das Bacias Hidrográficas - Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí CBH - PCJ) e foi divulgado pelo diretor de Recursos Hídricos de Limeira, Dirceu Brasil Vieira, que também é coordenador do curso de Engenharia Ambiental do Isca Faculdades.

Mas, foi o secretário executivo do Consórcio PCJ e coordenador geral da Agência de Água, Francisco Carlos Castro Lahóz, que explicou melhor essa situação, que já preocupou bastante gente, inclusive algumas autoridades.

Para explicar o fato de Limeira poder ter comprometimento no que diz respeito à qualidade de água, ele citou o Sistema Cantareira. Mas o que é o Sistema Cantareira?

De acordo com ele, são vários reservatórios, sendo três no Estado de São Paulo. “Antes de 2004, quando foi assinado um acordo pela Sabesp, a prioridade era a Grande São Paulo. Depois, passou-se a ter em 84,5% do tempo, garantidos 31 metros cúbicos por segundo para a Grande São Paulo e 5 metros cúbicos por segundo para a Bacia do Rio Piracicaba, através das comportas dos reservatórios do Jaguari e do Jacareí, dos reservatórios de Cachoeira e Atibainha”.

Acordo

O que ele quis dizer com essas informações é que mesmo com esse acordo e se houver estiagem, o abastecimento será mantido. Não só para Limeira, mas também para os municípios que ficam na calha do Jaguari ou na calha do Atibaia.

Ou seja, a dificuldade maior em Limeira é a qualitativa. “É como acontece em Piracicaba, que tem a junção dos rios Jaguari com o Atibaia. Muitas vezes passam 20 metros cúbicos por segundo e há necessidade apenas de um e meio metro cúbico por segundo. Mas, o problema é que essa pequena quantidade necessária não tem qualidade para servir a população”. Segundo ele, os tratamentos convencionais não seriam suficientes.


Equacionar riscos


Contudo, o risco seria qualitativo e não quantitativo. Mas, como equacionar para que Limeira não tenha outros problemas?

“O Comitê de Bacias Hidrográficas dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ) tem tomado providências no aspecto do seu plano de bacias. Tem sido priorizado o tratamento de esgotos e, com a cobrança estadual, implantada no ano passado e a cobrança federal, em vigor desde 2006, teremos, nesse ano, um montante financeiro acima de R$ 30 milhões liberados para projetos e também para algumas obras”.

Lahóz esclareceu que os recursos da cobrança não equacionarão a falta de recursos financeiros, mas permitirá a estruturação, como a elaboração de projetos executivos, e de licenças ambientais, que permitem aos próprios serviços de água, buscarem na própria Caixa Econômica Federal (CEF) e outras fontes, captarem esses recursos.

“Então o que eu diria é: ‘Se o que nós já estamos fazendo prevalecer, o que se pode ter em alguns momentos, quanto ao Rio Jaguari, é que o serviço de água, no caso a concessionária Águas de Limeira, terá que ter uma sofisticação maior no seu tratamento, embora, atualmente, já tenha uma qualidade muito grande no que diz respeito a tratamento’”.

Tudo isso porque, segundo ele, não se pode esquecer que a população cresce e há também o próprio desenvolvimento e, sendo assim, conseqüentemente, um maior consumo e menor diluição.

Pinhal

Então qual é a saída? Para ele, a saída é tratar os esgotos. Mas, isso tudo tem sido feito, de acordo com o coordenador geral da Agência de Água. “Então, é importante que o Pinhal esteja preparado, não só para situações emergenciais, mas para o futuro”.

E como preparar a Bacia do Pinhal? “Utilizando também os próprios recursos da cobrança do uso da água. Por ser um manancial menor, ele requer investimentos menores e há a possibilidade, desde que bons projetos sejam apresentados e haja preocupação das autoridades”.


Conforme as regras do Comitê, os projetos são pontuados tecnicamente. Com isso, de acordo com Lahóz, se a população de Limeira deseja que o Pinhal ofereça melhor qualidade de vida, é preciso que projetos - e não só projetos que dependem da concessionária, mas de ONGs, da Secretaria da Agricultura e Meio Ambiente da Prefeitura - devem ser apresentados, para que se possa ter uma bacia local recuperada e em condições de atender ao Jaguari a qualquer momento”.

Ele também vê o Pinhal como fonte alternativa de abastecimento extremamente importante, ao contrário de outros municípios, que não têm esse benefício. “Só que tem que investir e realmente dar importância”. O problema, segundo ele, é que passaram-se vários anos sem ações e sem a cultura preservacionista.

Para o coordenador geral da Agência de Água, o agricultor não tem culpa por não ter tido a cultura de preservar as margens dos rios. Mas, agora, é preciso conscientizá-lo.

Tudo isso porque, na opinião dele, a situação e as previsões não preocupam apenas Limeira, mas uma população de aproximadamente 5 milhões de habitantes nas imediações, sendo 9 milhões abastecidos pelo Sistema Cantareira, que tem as cabeceiras que começam na região.

“Estamos falando do abastecimento do segundo parque industrial do País e também de uma Bacia Hidrográfica que tem uma irrigação significativa”.

“Organizem-se!”, recomenda coordenador da Agência de Água

“Eu acho que não é questão de alarmismo e nem preocupação para a cidade de Limeira, mas se eu pudesse fazer uma recomendação para a população, eu diria o seguinte: Organizem-se através de associações tanto de engenheiros como de classes. Outra sugestão é que a própria Prefeitura, através dos departamentos responsáveis, crie grupos visando banco de projetos para a recuperação ambiental, para o tratamento dos esgotos, procurar as licenças ambientais para que, quando ocorram incentivos financeiros, como o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), haja possibilidade de captar o recurso. E, para isso, é preciso estar preparado”.

Segundo ele, o próprio Comitê PCJ está criando a cultura de um banco de projetos e, com isso, têm-se conseguido inúmeros recursos federais, por exemplo. “Então, mais do que criticar, reclamar, eu digo, organizem-se e estejam aptos para todas as oportunidades de investimento. Sou um otimista e acredito que vamos superar. Além disso, eu também sonho com um Pinhal revitalizado, não só para acudir o Jaguari, mas para que Limeira tenha orgulho de ter um manancial local em condições de mostrar para o mundo que é possível fazer isso”.

O rio de Piracicaba

MÁRCIO GEREMIAS

O Rio Piracicaba é um rio brasileiro do Estado de São Paulo. É o maior afluente em volume de água do rio Tietê. É também um dos mais importantes rios paulistas e responsável pelo abastecimento da Região Metropolitana de Campinas e parte da Grande São Paulo.

A Bacia Hidrográfica do Rio Piracicaba estende-se por uma área de 12.000 km², situada no sudeste do Estado de São Paulo e extremo sul de Minas Gerais.

O Rio Piracicaba nasce da junção dos rios Atibaia e Jaguari, no município de Americana. Após atravessar a cidade de Piracicaba, recebe as águas de seu principal afluente, o rio Corumbataí. O rio Piracicaba percorre mais de 100 km de sua formação até a sua foz no rio Tietê, entre os municípios de Santa Maria da Serra e Barra Bonita.

O Piracicaba possui diversos meandros, que transformam o leito sinuoso, porém tranqüilo, apto para a navegação de embarcações de menor porte após a cidade de Piracicaba. Seus meandros são a origem do nome do rio, que em tupi significa "lugar onde o peixe pára".

A Bacia Hidrográfica do Rio Piracicaba localiza-se numa das regiões mais desenvolvidas do Estado de São Paulo, abrangendo importantes municípios, como Bragança Paulista, Campinas, Limeira, Americana, Atibaia, Rio Claro, Santa Bárbara d'Oeste e Piracicaba.

O Piracicaba foi utilizado como rota fluvial de acesso ao Mato Grosso e Paraná no século 18 e cidades como Piracicaba foram fundadas nas suas proximidades.

Ao longo dos séculos 19 e 20, o rio foi utilizado como rota de navegação de pequenos vapores e como fonte de abastecimento para engenhos e fazendas de cana-de-açúcar e café.

Por volta de 1960, o governo paulista decide reforçar o abastecimento de água da Região Metropolitana de São Paulo e constrói diversas represas nas nascentes da Bacia Hidrográfica do Piracicaba, formando, assim, o Sistema Cantareira, maior responsável pelo abastecimento de água de São Paulo, que capta e desvia águas dos formadores do Rio Piracicaba, reduzindo, assim, o nível de água do rio e de seus afluentes.

Por volta de 1980, a industrialização e metropolização de Campinas levam a uma crescente contaminação das águas já escassas do Piracicaba e o rio chega ao século 21 como um dos mais contaminados do país.

Nos últimos anos, a criação de grupos de pressão, maior fiscalização e negociações quanto à reversão das águas feita pelo Sistema Cantareira, além da construção de estações de tratamento de esgoto em algumas cidades, evitaram que o quadro se agravasse ainda mais, porém, o Piracicaba continua registrando águas impróprias para consumo humano e animal em grande parte do seu curso.

A navegação no Piracicaba poderá ser retomada com a construção de uma barragem próxima à foz do rio, em Santa Maria da Serra, que possibilitaria a navegação do rio até as proximidades da cidade de Piracicaba e interligaria a região de Campinas à Hidrovia Tietê Paraná, porém, o projeto ainda não possui previsão de efetivação.

O Rio Piracicaba atravessa uma das regiões mais antigas de ocupação do Estado de São Paulo e está firmemente situado na cultura da cidade de Piracicaba, que cresceu ao longo de suas margens.

Em Piracicaba, diversas festas populares são realizadas às margens do rio; a figura do pescador caipira ainda resiste e a música caipira típica daquela região imortalizou o rio na música Rio de Lágrimas.

Poluição no Rio Piracicaba

De acordo com Rosângela Silva, responsável pela área de comunicação da Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental) de Piracicaba e Agência Ambiental Unificada de Piracicaba, a poluição no Rio Piracicaba está cada vez pior.

Segundo ela, um rio sem poluição é aquele em que os peixes e as plantas crescem naturalmente, tem águas limpas e cristalinas. Sua água serve para regar plantações, tomar banhos e também para beber. Para um rio ser assim, é preciso que não se jogue lixo, nem esgoto diretamente nele.

Veja os gráficos com os níveis de poluição dos rios da Bacia do Rio Piracicaba

Águas poluídas causam mortes aos peixes

Segundo Rosângela, a poluição da água do Rio Piracicaba se dá pela introdução de materiais químicos, físicos e biológicos que estragam a qualidade da água e afetam o organismo dos seres vivos.

Esse processo vai desde simples saquinhos de papel até os mais perigosos poluentes tóxicos, como os pesticidas, metais pesados (mercúrio, cromo, chumbo) e detergentes.

A poluição mais comum no Rio Piracicaba é aquela causada pelo lixo que o homem joga nos rios. O crescimento da cidade e de sua população aumentou os problemas, porque o tratamento de esgotos e fossas não conseguiu acompanhar o ritmo de crescimento urbano e, com isso, o número de pessoas poluindo os rios aumentou.

Poluição química é umas das que mais preocupam

Produtos químicos e sujeira dos esgotos são jogados diretamente nos rios ou afetam os lençóis d’água que formam as nascentes. O excesso de sujeira funciona como um escudo para a luz do sol, afetando o leito dos rios e seu ciclo biológico. Ou seja, as plantas e animais que neles vivem passam a sofrer problemas.

Por exemplo: o nitrogênio e o fósforo são elementos essenciais para a vida aquática, mas o excesso desses elementos, provocado pela poluição, pode causar um crescimento acelerado na vegetação aquática. Com isso, sobra menos oxigênio, podendo até mesmo matar os peixes daquele rio ou lagoa.

Talvez mais perigosa do que o lixo dos esgotos é a poluição química das indústrias, que jogam toneladas e mais toneladas de produtos químicos diretamente nos rios, sem qualquer processo de filtragem.

Um exemplo dessa poluição é a exploração de ouro nos rios da Amazônia. Usa-se, por exemplo, o mercúrio para separar o ouro de outros materiais. Esse mercúrio, depois de usado, é jogado diretamente nos rios, matando grande quantidade de peixes e plantas. Com isso, nem os seres vivos dos rios podem sobreviver, nem o homem pode usar a água para beber, tomar banho ou regar plantações.

Evitando e combatendo a poluição nos rios

Segundo Rosângela, para evitar poluições nos rios, devemos:

* Não jogar lixos nas águas dos rios,
* Não canalizar esgoto diretamente para os rios,
* Não desperdiçar água, em casa ou em qualquer outro lugar,
* Observar se alguma indústria está poluindo algum rio e avisar as autoridades sobre a ocorrência.
Água: cada vez mais escassa no mundo

Segundo Felipe Rufino Nolasco, professor de Química, a água é fundamental para a vida no planeta e tem se tornado uma preocupação em todas as partes do mundo.

O uso irracional e a poluição de rios e lagos podem ocasionar, em breve, a falta de água doce, caso não ocorra uma mudança drástica na maneira com que o ser humano usa e trata este bem natural.

Os principais fatores de deterioração do Rio Piracicaba, segundo Nolasco, são a poluição e a contaminação por produtos químicos e esgotos.

Doenças causadas pelas águas contaminadas

De acordo com Nolasco, cerca de um milhão de pessoas não têm acesso à água potável. Em razão desses graves problemas, espalham-se diversas epidemias de doenças como diarréia, leptospirose, esquistossomose, hepatite e febre tifóide, que matam mais de 5 milhões de pessoas por ano, sendo que um número maior de doentes sobrecarregam os hospitais e postos de saúde destes países.

Embora muitas soluções sejam buscadas em esferas governamentais e em congressos mundiais, no dia-a-dia, as pessoas podem colaborar para que a água doce não falte no futuro. A preservação, economia e o uso racional da água devem estar presentes nas atitudes diárias de cada cidadão.

Consciência ambiental chega às empresas


Reciclador ecológico: benefícios ambientais.
Foto: Mauro Martins

PRISCILLA PRATES

A preocupação com a água é um tema cada vez mais discutido. Afinal, para cada litro de água utilizado, outros dez mil são poluídos. Mesmo em países como o Brasil, que detém quase 12% de toda água doce do planeta, a escassez está presente em muitas regiões.

Segundo a ONU (Organizações das Nações Unidas) pouco mais de um bilhão de pessoas em todo o mundo já não têm acesso a água limpa suficiente para suprir suas necessidades básicas diárias.

Diante deste quadro, muitas empresas estão cada vez mais conscientes e preocupadas com os problemas relacionados ao meio ambiente.

Dono de uma pequena empresa em Limeira, a Limpágua, Domingos Inocêncio, criou uma máquina que chamou de reciclador ecológico. O equipamento é destinado a oficinas mecânicas, centros automotivos e indústrias, a fim de separar a água da graxa e do óleo, além de impurezas como terra e areia, tornado-a adequada para o reuso.

“Sempre me preocupei com o meio ambiente e descobri que as empresas encontravam dificuldade na hora de separar a água da graxa e do óleo, e impurezas. Por isso, resolvi desenvolver essa máquina, que torna a água apropriada para o reuso ou para ser devolvida ao meio ambiente", conta Inocêncio.

Limpeza

O reciclador ecológico não utiliza nenhum tipo de produto químico, filtro ou energia elétrica. Ele possui câmaras fabricadas em fibra de vidro, evitando qualquer tipo de desgaste. Seu sistema de funcionamento é feito por meio de pesos, tornando o processo contínuo o mais econômico possível.

Além de economizar reutilizando a água e utilizar menor quantidade de produtos para limpeza, o reciclador não polui os lençóis freáticos. “A economia pode chegar até a 80%”, explica o fabricante.

A máquina que custa em média, R$ 2 mil, tem como objetivo trabalhar na prevenção de danos ambientais, pois evita problemas nas redes e nos tratamentos de esgoto. Além do mais, o equipamento é de fácil instalação, operação e limpeza.

Economia

O reciclador atende a normas e parâmetros da Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental). Inocêncio explica que, em um teste, onde em um afluente inicial era 3.590 miligramas de graxas e óleos a cada litro de água descartado (mg/l), o reciclador reduziu para 54 mg/l no efluente de saída, sendo que a norma máxima estabelecida pela legislação é de até 150 mg/l.

Segundo o fabricante, o interesse de empresas pelo reciclador tem aumentado. “Mais de 50 empresas de Limeira e região já adquiriram o reciclador. Tenho clientes de diversas áreas, desde donos de oficinas mecânicas a de lavadoras de carros”.

Inocêncio conta que sua empresa também desenvolveu a recicladora ecológica móvel, banheiro criado com o objetivo de atender o trabalhador nas áreas rurais e onde existir aglomeração de pessoas, estando o local descoberto da rede de esgoto. “Nossa preocupação inclui, ainda, a relação entre as empresas e os colaboradores”, diz.

A natureza pede consciência do homem

Visita a bairro de Limeira mostra o desrespeito ao meio ambiente.

LUCAS CLARO

O vento frio faz com que as belas árvores realizem um verdadeiro balé, em um movimento encantador de galhos e folhas. No jardim Barão de Limeira, é possível observar como a natureza foi generosa com o bairro, propiciando-lhe uma linda paisagem. Pássaros, borboletas, muitas árvores e flores fazem parte do local.

O singelo ato de contemplar a magnitude da natureza é abruptamente interrompido pela força do homem. Uma força que a natureza não consegue vencer. A falta de consciência é daquele que deveria protegê-la, o próprio ser humano.

A pequenina borboleta, com as cores fortemente definidas em tons de vermelho e preto, voa entre as flores e restos de comida, garrafas plásticas, de uísque, papéis e muito entulho.

O pavoroso contraste parece ser sentido pelo inseto holometábolo, ou seja, que passa por inúmeras transformações durante a fase da vida. Talvez a mais aterrorizante das transformações é saber que o homem está destruindo a seu habitat natural.

Esse é o cenário de algumas ruas do bairro de classe média, Barão de Limeira, que leva, no sobrenome, o nome da cidade. Ele fica em uma área de preservação permanente, próximo a uma nascente.

O biólogo da secretaria de meio ambiente de Limeira, Rogério Mesquita, cabelos penteados e com gel, óculos redondos e roupa social, olha o cenário e, descrente, movimenta a cabeça em sinal de reprovação. Ao vê-lo assim, indago:

“Qual a sensação, para você, como um biólogo, ver tudo isso? Existe algum trabalho de educação ambiental na cidade para que isso não aconteça?”

De prontidão, ele responde:

“Fico muito chateado, isso é uma situação gritante. Isso é um recurso natural esgotável. Por falta de educação, as pessoas estão destruindo a natureza. É inaceitável. A cidade possui 100% de cobertura de lixo, e, agora, estamos com trabalhos em 18 eco-pontos da cidade. Mas, por mais que tentamos orientar, sempre existem pessoas que fazem isso, acabam com a natureza”, explicou o biólogo.

Os eco-pontos são locais distribuídos nos bairros de Limeira que servem para a população levar materiais descartáveis, ou ainda, pneus ou entulho, por exemplo.

Aproxima-se das nove da manhã. Os raios do sol brilham com maior intensidade, o que faz elevar a sensação térmica. Cerca de 20 metros à frente, do lado esquerdo da calçada, está Antônio Oliveira, aposentado de 61 anos. De chinelo, bermuda azul marinho e camiseta branca com a frase em inglês: Life Love (amo a vida, em português), o aposentado de pele morena clara e calvo, faz jus à escrita que está na camisa na altura do peito.

De forma organizada, ele coloca o lixo da casa na lixeira. Ao abordá-lo, questiono a respeito da indisciplina de muitas pessoas que jogam lixo em áreas de preservação do meio ambiente, como acontece próximo a casa dele.

Aborrecido seu Antônio fala que as pessoas que fazem isso provavelmente são de outros bairros. Com o olhar distante, observando a sujeira nas proximidades de sua residência, o aposentado não resiste e comenta:

“ As pessoas deveriam amar mais a natureza e, assim, preservar o meio ambiente. E, se gostam de imundice, deveriam fazer dentro da casa delas”,exaltado, reclamou.

O aposentado ainda agradeceu o incentivo da reportagem em divulgar a situação do bairro, que, segundo ele, é lamentável.

Após a conversa com o morador, caminho com o biólogo por mais alguns metros e mais sujeira. Rogério Mesquita, ao se deparar com a situação, reclama: “Mais sujeira. É preciso escalar um pessoal para limpar tudo isso. É uma falta de consciência absurda”.

Voltamos para carro e, no caminho para secretaria de meio ambiente, o biólogo vai mostrando diversos lugares que muitas pessoas jogam entulhos e lixo.

Segundo ele, é preciso um trabalho de conscientização muito grande para que as pessoas preservem aquilo que é de total interesse delas e de suas gerações futuras.

Segundo informações da coordenação do aterro sanitário de Limeira, a cidade produz 150 toneladas de lixo ao dia, o que corresponde a 0,55 tonelada por habitante ao dia.

Limeira possui, ainda, coleta em 100% da cidade, todos os dias na região central e dias alternados nos bairros. A antiga capital nacional da laranja, que hoje atrai os olhos para os folheados, possui ainda uma cooperativa de lixo e um aterro sanitário, que, esse ano, teve a prorrogação por mais dois anos, até a implantação do novo aterro.

Ao analisar a situação da cidade, fica evidente que o cidadão limeirense não tem necessidade de despejar lixo e resíduos domésticos em áreas de preservação permanente.

Para essas pessoas faltam disciplina e educação. Recordo-me do poema de Manoel Bandeira, o bicho que compara o homem a um ser inferior ao animal. Diz o poeta: “[...] O bicho não era um cão. Não era um gato. Não era um rato. O bicho, meu Deus, era um homem”.

Homem esse dotado de inteligência, mas que, com certeza, precisa utilizá-la antes que seja tarde de mais.